Recebi de um amigo um link para um post no Forensic Focus com o seguinte título: Charlatans in Digital Forensics. Tratava-se de um assunto bastante oportuno e portanto, resolvi trazê-lo até aqui.
Tenho visto com relativa frequência verdadeiros desastres com relação a perícias judiciais. A carreira de Perito está em destaque, em parte devido aos programas de TV e em parte pela possibilidade de ganhar dinheiro em processos cíveis/trabalhistas.
Primeiro vamos esclarecer algumas coisa sobre a profissão de Perito. Peritos Criminais são aqueles que ingressam nos órgãos oficiais de perícias estaduais e federais através de concurso público. Peritos Judiciais são os que foram nomeados pela Justiça para atuar em um processo e só têm esse título enquanto atuam no caso. Podem até ser nomeados com certa frequência mas só podem ser chamados de Peritos no curso do processo, como um Jurado convocado pelo Tribunal do Júri, que somente terá este título enquanto participa do julgamento. Nos demais casos são denominados por Assistentes Técnicos, contratados pelas partes, muitos com extensa bagagem e conhecimento e acostumados a atuar na Justiça.
Mas vamos nos ater a aqueles cujo comportamento pode afastar a verdade de um processo judicial, trazendo sérios riscos em inocentar culpados e atribuir responsabilidades a pessoas inocentes. Esses são considerados charlatães e é sobre eles que trata o post de James Zjalic. Ele define três tipos de charlatães: O inocente, o aliado ao dark-side e o nefasto.
O primeiro tipo é o bem intencionado, mas que não possui conhecimentos e/ou habilidades necessárias para exercer a função de perito ou de assistente técnico.
O segundo tipo é aquele com conhecimentos mas a falta de habilidade empresarial os levou a enfrentar dificuldades em obter remuneração adequada, fazendo-os produzir provas legítimas a baixo custo. Como consequência deixou de investir na carreira e nas ferramentas necessárias ao exercício da profissão, acabando por aderir ao lado sombrio, afastando-os cada vez mais da ciência.
O terceiro é o mais danoso de todos, pois na maioria dos casos não possui conhecimento/habilidades e o seu pensamento encontra-se focado no dinheiro. Normalmente abandonam a verdadeira ciência e torcem os resultados de tal forma, para atender ao seu cliente, distanciando-se cada vez mais da verdade. Não investe em capacitação, certificações e atualizações das ferramentas de trabalho, dedicando-se muitas vezes em apenas a contestar o trabalho sério.
O post dá algumas dicas de como reconhecer tais “profissionais” pois em geral não sabem valorar seu trabalho, cobrando honorários de forma irreal, algumas vezes muito baratos, outras vezes muito caros, oferecendo resultados quase sempre espetaculares.
A inexistência de um conselho que regule a atividade deixa-o à vontade, portando-se de forma irresponsável e não raramente trazendo prejuízo a seus clientes.
É complexo para alguém que não seja da área pericial avaliar se um profissional possui as qualidades necessárias para a realização dos trabalhos, particularmente na Computação Forense, uma área relativamente nova, que aos poucos vem se tornando conhecida.
Durante toda minha carreira, que começou como Perito Criminal em 1995, vi todo tipo de relatório técnico pericial, seja Laudo Pericial ou Parecer Técnico, em todas as áreas de atuação. Alguns confeccionam relatórios baseados apenas na leitura de Laudos Periciais oficiais, sem sequer examinar o objeto da perícia, atacando a integridade dos profissionais, colocando dúvidas sobre o caráter e o trabalho destes, o que fere a ética e isso definitivamente não é perícia, tampouco ciência.
Muitos dedicam mais da metade de seu relatório com fundamentos muitas vezes desatualizados, cópia de trechos de livros sem citar a fonte ou até mesmo se apropriam de citações de terceiros como se fossem de sua própria autoria. É comum encontrar no relatório mais informações sobre seu currículo, títulos, dotes, habilidades e experiência, muitas vezes irreais e não relacionados à área de atuação e difíceis de comprovar, do que sobre a própria perícia. Ao fim, concluem seu relatórios fazendo afirmações sem comprovação e completamente desvinculadas das premissas consideradas nos exames.
O trabalho do Perito é baseado na ciência e deve ser realizado utilizando conhecimento, técnicas e metodologia que possam ser comprovadamente reproduzidas a fim de garantir a confiabilidade do resultado.
Os charlatães por regra não tem ética. Ética, que vem do grego ethos, está relacionado ao caráter, aos valores e comportamentos perante à sociedade. Já a moral, apesar de estar bem próxima desse significado, está mais ligada aos costumes, à tradição e aos ensinamentos, o que pode produzir variações entre povos de costumes distintos. O Perito deve pautar-se de um comportamento ético, consciente que o seu papel é antes de tudo, estabelecer a verdade dos fatos e as verdades na Computação Forense tem caráter bastante objetivo, onde a prova será constituída e robustecida com cada vestígio encontrado. O Perito deve ater-se ao uso da ciência no seu trabalho, baseando sua análise nos fatos e achados, correlacionando-os, construindo a prova material.
Quando um Perito não se sente seguro, não é nenhuma vergonha consultar um colega mais experiente, alguém que possa lhe orientar na execução do seu mister, de forma que possa trazer a luz da verdade ao seu trabalho.
Se precisa de um Perito, em que área seja, consulte referências sobre o profissional, trabalhos já realizados, processos em que atuou e até o órgão de perícia oficial do seu estado, se for o caso.
Até o próximo!